O que é SaaS: conheça os diferenciais deste modelo de negócio
Como o Software-as-a-Service mudou o mercado de tecnologia e como está começando a tomar conta de outros mercados.
Olá, seja muito bem vindo(a) à Newsletter Operando um SaaS. Meu nome é Thiago Fagundes e se essa é sua primeira vez por aqui, esse é um espaço onde falo sobre operações de negócios de software como serviço. Inscreva-se para receber nossos conteúdos duas vezes por semana, todas segundas e quintas-feiras. Vamos ao conteúdo!
Introdução
Há 15 ou 20 anos atrás, era muito diferente a vida de quem queria ter acesso a músicas, filmes, jogos, livros ou até mesmo softwares. Podemos dizer que esse acesso não era muito democrático, digamos assim. Vou exemplificar.
Se você quisesse assistir um filme (novo, sem ter que esperar que saísse na TV), precisaria ir até uma videolocadora para alugar um VHS ou DVD, ou até mesmo comprar a mídia física daquele material. Caso você quisesse ver um filme não tão novo assim, poderia ir a um sebo e comprar de segunda mão. O que acontecia na prática era: você pagava para ter um filme que veria provavelmente uma vez só. No caso das videolocadoras, você alugava e às vezes pagava uma multa por um filme que nem teve tempo de ver.
Quando o assunto era software, a coisa era ainda mais proibitiva. Imagine o cenário: me lembro bem que em 2006 eu estava em uma livraria Saraiva e vi o preço de um Pacote Office (conjunto de programas de produtividade da Microsoft: Word, Excel, PowerPoint, etc.). Quase desmaiei.
O preço era R$ 700,00 pela licença do Pacote Office mais novo da época. Detalhe: o salário mínimo era menos de R$ 400,00.
Você não poderia comprar os softwares isoladamente. Era tipo comprar uma caixa de bombom para comer só o sonho de valsa. O número de pessoas que tinham um Microsoft Access sem saber até hoje para quê serve é enorme.
Além disso, você comprava AQUELES programas. Se quisesse a nova versão do Excel quando fosse lançada, adivinha? Teria que comprar novamente, é claro. Quase como comprar um novo iPhone por uma câmera levemente melhor (espera, não é isso que as pessoas fazem?).
Os problemas nesse modelo
Esse modelo era muito problemático, tanto para os clientes quanto para as empresas.
No lado das empresas, a receita adquirida era sazonal e imprevisível. Toda vez que uma nova versão de um software era lançada, a empresa precisava tentar revendê-la, para novos e antigos clientes, para seguir faturando.
Imagine você com seu Software versão 2003, super acostumado a usar e satisfeito com as atuais funcionalidades. O que te faria pagar mais uma bela bagatela para ter acesso à versão 2007?
Além disso, o preço elevado restringia o mercado. Era difícil para pessoas físicas ou pequenas empresas conseguirem usar boas ferramentas com preços que exigiam um grande investimento logo de largada. Isso abria muito espaço para a pirataria (Há quanto tempo você não vê mais aquele monte de banquinhas de CDs e DVDs piratas na rua? Pode agradecer parte disso ao SaaS, com certeza).
Havia mais um ponto - esse não tão relevante - mas que era de certa forma chatinho na forma como usávamos essas ferramentas: como o armazenamento em nuvem ainda não havia se popularizado, instalar os programas no seu computador geravam a necessidade de espaço no HD (naquele tempo isso era um problema, tá?), os arquivos ficavam salvos localmente (isto é: se você esquecesse de levar um CD com seus arquivos ou um pen-drive - aquele que você perdia um por semana - você não conseguiria abrir seu trabalho em outro computador).
Até para as empresas, trabalhar localmente era uma desvantagem: o volume de informações que conseguiam ter de seus clientes e usuários era muito menor.
A nuvem e o SaaS
Teoricamente, o SaaS (Software-as-a-Service, ou Software como Serviço) nasceu com a Salesforce, lá por 1999. Não é a toa que eles são até hoje uma potência e grande referência no mercado. Foi a semente do movimento do modelo de cobrança por assinatura de software.
Mas, foi lá por 2007 que começaram a se popularizar os primeiros softwares de armazenamento em nuvem (softwares hospedados em servidores na internet, que tornavam possível o acesso remoto aos seus arquivos), com o Dropbox. O Dropbox era uma ferramenta de tanto valor, que resolvia uma dor tão grande e chata, que acabou popularizando a ideia de até pessoas físicas pagarem mensalmente por um serviço online. Isso levou a Dropbox a se tornar uma empresa de 2,5 Bi de dólares de ARR.
De lá para cá a coisa caminhou muito rapidamente. O modelo de assinatura se popularizou extremamente - principalmente nos Estados Unidos.
Houve até uma febre de tornar absolutamente tudo em assinatura, há uns 5 ou 10 anos atrás. Era clube de vinho (esse vingou!), de cerveja, de lâmina de barbear… Lá na gringa, é extremamente comum até hoje você assinar quase tudo que compra.
Isso tem gerado até mesmo uma “fadiga da subscrição”, que tem feito um movimento contrário começar a surgir por lá, o do pay-per-use.
Porém, mundialmente, algumas tendências parece que vieram para ficar. É normal termos diversas assinaturas, principalmente de serviços de streaming de vídeo e música. O streaming de vídeo é um caso à parte: surgiu pra matar a televisão à cabo, mas hoje pagamos mais caro, assistimos propaganda e temos menos opção. A única vantagem que sobrou (até o momento) é poder escolher o que vai ver.
As vantagens do SaaS
Mas, porque as empresas ficaram repentinamente apaixonadas por esse modelo de negócio? Simples, imagine um modelo de negócio onde você não precisa ter que matar um leão por dia para sobreviver. Esse é o SaaS.
O segredo do sucesso do SaaS é a previsibilidade de faturamento. Em uma empresa de SaaS bem organizada e construída, o faturamento é altamente previsível e estável. Seus clientes seguem pagando pelo seu produto e serviço mensalmente, contanto que continuem vendo valor na sua solução. O crescimento é muito mais controlado e seguro.
Todo tipo de negócio transacional (movido por transações, onde você precisa vender constantemente para faturar) exige um esforço colossal de reinvenção e venda para seguir crescendo. Já no SaaS, eu pessoalmente já vi casos de Softwares que não eram atualizados ou vendidos há anos e que seguiam com uma base de clientes fiéis, faturando e sendo financeiramente sustentáveis. Sem nenhum esforço adicional.
É claro que esse modelo tem seus riscos. Não significa que é melhor ou pior do que nenhum outro modelo, mas que pode ser uma excelente arma para trazer segurança para a sua empresa.
Principais vantagens do SaaS:
Receita recorrente: previsibilidade de faturamento;
Democratização de acesso: mercado acessível muito maior, cobrando pequeno um valor por mês a solução se torna economicamente viável para muito mais pessoas;
Fuga do mar vermelho: com uma base de clientes fiéis, você garante um faturamento sem depender do aumento constante de preço nos leilões de anúncios das plataformas mais populares;
Menor esforço de inovação: se sua solução resolve uma dor clara, seu cliente continuará pagando, muitas vezes por inércia. Dependendo do mercado, mesmo que haja um concorrente melhor e mais barato, seu cliente pode relutar em trocar de software simplesmente para evitar o esforço de mudança;
A invasão do SaaS no Marketing Digital
Recentemente, o SaaS tem invadido outros mercados, principalmente o dos infoprodutores (cursos e produtos digitais, representados fortemente pela figura dos influenciadores).
Se você conhece esse mercado, sabe como as vendas são sazonais e exigem um massivo investimento de marketing. É um mercado extremamente lucrativo, mas que vem sofrendo com o aumento da concorrência e do custo por clique nas plataformas de anúncios mais populares.
Isso está atraindo muitos players consolidados do mercado digital para o SaaS. Um exemplo disso é o Thiago Nigro, conhecido como Primo Rico. Ele já investiu em diversas iniciativas de SaaS como a Kinvo, Finclass, Staage, Staart, entre outras.
Esse movimento está se tornando cada vez mais comum. E a tendência é que se torne ainda mais. A sedução de uma receita previsível mexe com o coração de um bom empreendedor.
O futuro do SaaS no Brasil
Apesar da fadiga da subscrição nos Estados Unidos, tanto lá quanto aqui no Brasil (ainda mais aqui), há muito futuro para os negócios SaaS.
Cada vez mais têm surgido bons negócios SaaS nacionais e o assunto vem se popularizando e ganhando força até mesmo entre pequenas empresas. O assunto de micro-SaaS e Indie Hackers está chegando com força aqui no país - uma tendência bastante forte fora na América do Norte e Europa, que vem surgindo com força e uma comunidade super engajada, capitaneada pelo Bruno Okamoto - e somado à tendência de produtização dos serviços vinda do mercado do marketing digital, trará consigo um boom de desenvolvimento de tecnologias interessantes aqui no país, visto que o Brasil é um dos países com os influenciadores mais fortes do mundo em influência.
Outro tópico que está gerando um grande boom no mercado de SaaS é a inteligência artificial. O surgimento dos grandes modelos conversacionais e suas APIs, fez com que abrisse um grande leque de possibilidades no mercado de SaaS. Foi como se um novo “território” houvesse sido desbloqueado, as possibilidades de aplicação de IA em produtos ou serviços já existentes, fizeram com que uma verdadeira corrida começasse.
Além de tudo isso, cada vez mais, grandes empresas de SaaS têm desembarcado aqui com operações nacionais. Recentemente, foi a vez da Basecamp, empresa que eu pessoalmente gosto e admiro muito.
Então, se você é um empreendedor ou aspirante a fundador, investir em um negócio SaaS pode ser uma excelente oportunidade.
Gostou do conteúdo? Não esqueça de deixar uma curtida, de se inscrever na Newsletter (conteúdos novos todas segundas e quintas-feiras!) e de compartilhar com seus amigos interessados no assunto de operações de Software-as-a-Service. Se quiser saber um pouco mais sobre meu trabalho, pode me seguir lá no LinkedIn também!