15 riscos que seu SaaS pode correr ou estar correndo
Aprenda a evitar que o seu sonho de negócio se torne rapidamente um pesadelo de dor de cabeça.
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Empreender não é nada simples, e empreender com SaaS pode ser ainda mais complicado. Principalmente se você não conhecer os riscos que seu negócio corre. Um negócio de SaaS envolve muitas responsabilidades e possibilidades, e o contato com a internet adiciona uma boa pitada a mais de risco nesse modelo de negócio. Então, o objetivo do artigo de hoje é te ajudar a se preparar para ter um negócio extremamente robusto e resiliente.
Vou separar esses riscos entre três diferentes categorias:
Riscos de negócios
Riscos burocráticos
Riscos de tecnologia
O intuito deste artigo não é assustar. Mas sim ajudar você a começar a se preparar. É óbvio que você não está necessariamente correndo esses riscos desde o primeiro dia do seu negócio, mas, em algum momento, principalmente quando você começar a ter mais e mais clientes, eles irão aparecer.
É um processo quase que natural, quanto mais seu negócio cresce e tem sucesso, mais riscos aparecem. Mas, se você conhecer esses riscos desde muito cedo, quando eles finalmente aparecerem, você já estará preparado. Então, vamos começar.
→ Riscos de negócios:
Os riscos de negócios são, inclusive, comuns a qualquer tipo de negócio. Mas, em SaaS, alguns deles ganham uma proporção maior por causa da baixa barreira de entrada atual. Os riscos principais são:
Riscos de disrupção: se sua proposta de valor for frágil ou seu produto for facilmente copiado, substituído ou engolido por uma empresa maior. Imagine o seguinte cenário: você tem um SaaS 100% baseado em IA, que realiza uma tarefa simples. Agora pense que, em algum momento, a OpenAI muda uma lógica de negócio e passa a disponibilizar a possibilidade da criação e disponibilização de GPTs para todo o mercado. Seu negócio passa a ter um risco enorme de perder receita, e isso pode ser precificado por um potencial comprador.
Riscos de concorrência: todo tipo de negócio corre o risco de ser engolido pela concorrência. Em SaaS, isso é ainda mais evidente por dois fatores principais. Primeiro, SaaS está em alta e é um mercado bastante valorizado e visado, onde muita gente quer entrar. E segundo, está cada vez mais fácil e barato criar um SaaS. Os custos iniciais e as dificuldades vêm caindo muito nos últimos anos. Isso é bom para os entrantes, péssimo para players estabelecidos. Para evitar a concorrência eu recomendo ter diferenciais claros e atuar em nichos menos atrativos (evite macro mercados onde grandes empresas têm a atenção constante). Vou deixar aqui também o link do meu artigo sobre como lidar com a concorrência.
Riscos de fornecedor: em SaaS os riscos de fornecedor poderiam ser enquadrados no “riscos de tecnologia também”. Afinal, a maioria - senão todos - os fornecedores de um SaaS fornecem tecnologia. A dica aqui é: jamais fique dependente de um fornecedor, seja ele qual for. Se você depende de um produto de terceiro para ter a sua oferta (e aqui estamos falando de cloud, de bibliotecas, de softwares no-code, de modelos de IA…) você fica totalmente dependente da política de preços desse fornecedor, o que pode colocar sua margem em risco a qualquer momento. Portanto, sempre teste novos fornecedores e tenha-os na manga caso precise trocar.
Risco de clientes: trazer grandes clientes para o seu negócio pode ser uma garantia de sucesso, mas também um forte risco de fracasso. Ter a receita da sua empresa muito concentrada em apenas um ou poucos clientes pode fazer sua empresa deixar de existir ou quebrar do dia para a noite simplesmente com a saída do(s) cliente(s). Pode parecer um cenário extremo, mas eu já vi isso acontecer diversas vezes e já apareceu em pesquisas de mortalidade com relevância grande. Evite concentrar demais a receita do seu SaaS. Ter mais clientes distribuindo essa receita em pequenas partes evita que seu negócio se torne uma montanha russa de receita.

→ Riscos burocráticos:
Empreender no Brasil envolve muita burocracia. E você pode ser pego de surpresa em vários momentos se não se atentar às suas obrigações burocráticas como empresário. Essa é, provavelmente, a parte mais chata de empreender, mas é necessária:
Riscos societários: se seus acordos societários não estiverem muito bem definidos e oficializados, isso pode penalizar seu negócio em várias oportunidades. Pode até matar sua empresa, afinal de contas, um dos principais motivos de mortalidade de empresas é conflito societário. Ter bons acordos societários firmados desde o dia zero do negócio não é preciosismo, é profissionalismo. Você deve definir cedo fatores como participação, tomada de decisão, objetivos do negócio e o que fazer em situações específicas como ofertas de compra. Nesse sentido, uma sociedade é igual casamento, isso tudo precisa estar alinhado antes.
Riscos financeiros: boas práticas financeiras são fundamentais. Ter reservas de caixa para imprevistos, fazer boa gestão do fluxo de caixa e ter demonstrativos financeiros atualizados e bem organizados desde o início pode ser sim super importante para o seu negócio. A maioria das empresas encontra sérias dificuldades em diligências porque seus processos e documentos financeiros ou demonstrativos (quanto têm) são furados. Nesse processo, elas correm risco de ruína e perdem muito do valor numa negociação de venda ou aporte de investidores, por exemplo. Lembre-se que seu negócio é um patrimônio seu e tem valor, então busque sempre valorizá-lo. Para isso, tenha bons demonstrativos financeiros e sempre atualizados;
Fonte: PEGN. Essa reportagem da época da pandemia deixou clara a falta de qualidade na gestão financeira do empreendedor médio no Brasil. Riscos contábeis: a partir de um determinado momento na sua empresa, é importante que você busque aconselhamento profissional em relação a seus tributos. Fazer besteira nesse assunto além de prejudicar o funcionamento da empresa, tornando-a pouco produtiva, pode pôr em risco sua empresa toda. Muita gente acha aconselhamento contábil algo custoso e desnecessário, quando na verdade é algo que pode fazer você economizar bastante dinheiro. Estar por dentro de regras como a desoneração de folha para empresas de tecnologia poupou muito dinheiro a empresas de SaaS no Brasil nos últimos anos.
Riscos de marca: até mesmo empresas grandes têm problemas relacionados à marca. É óbvio que, se você tem um SaaS pequeno, não é tão importante um registro no INPI desde o primeiro dia. Mas manter o olho nisso e fazer uma pesquisa no momento de criar sua marca é bacana. Além disso, assegure que você tem os principais domínios, @s nas redes sociais e coisas do tipo. Pode parecer bobo, mas há pessoas especializadas em “sequestrar” domínios e cobrar recompensas;
Riscos regulatórios: se você atua em um mercado fortemente regulado, não tente fazer nada em brechas da lei ou coisas do tipo. Inclusive, atuar nesse tipo de mercado - onde as regras podem mudar a qualquer momento - pode prejudicar muito seu valor de mercado. Por exemplo: se você tiver um SaaS de apostas esportivas e o governo voltar atrás e resolver proibi-las novamente no país, isso pode quebrar sua receita repentinamente ou até matar o SaaS.
Riscos trabalhistas: pessoas trabalhando com cargo errado, em funções erradas e salários errados podem gerar processos trabalhistas e outros tipos de problemas. Ter uma empresa bem arrumadinha no sentido de RH (recursos humanos) e DP (departamento pessoal) pode evitar processos, custos inesperados e gerar uma boa valorização do seu ativo (a empresa);
→ Riscos de tecnologia
Por fim, tecnologia é complexo por natureza. Em um negócio de SaaS, há vários detalhes que precisam ser observados para que essa complexidade não se torne dor de cabeça, como por exemplo:
Riscos de plataforma: é o bom e velho problema de construir uma casa em terreno alugado. São casos de SaaS que são construídos com base em parcerias ou APIs (oficiais ou não), mas que dependem da existência de um terceiro para existirem ou funcionarem. Exemplo disso: vários SaaS deixaram de existir do dia para a noite quando o X (antigo Twitter) mudou as regras e fechou sua API, após a compra do Elon Musk. Eu mesmo, pessoalmente, já vi um SaaS ir de 300k de MRR para 100k em 4 meses por uma mudança de regra.
Riscos de segurança: invasões, ataques de hackers, DDOS e coisas do tipo não são uma questão de “se” acontecerem, e sim de “quando” irão acontecer. Ter um negócio bem preparado para esse tipo de coisa é importantíssimo. E quanto maior e mais visível for sua empresa, mais provável e recorrente de acontecer.
Riscos de propriedade intelectual: Caso sua tecnologia seja algo bastante inovador, talvez valha entender quais os riscos possíveis relacionados à propriedade intelectual. Talvez uma patente possa trazer maior segurança para o negócio e você ainda gera um ativo valioso para o negócio.
Riscos de licença: tome muito cuidado com os softwares que você usa no negócio e suas licenças de uso. Há softwares Open Source que cobram pelo uso da licença comercial, por exemplo. Licenças de softwares como Windows e pacote Office, que parecem besteiras, são ativos da sua empresa. Isso pode dar problema em relação a fiscalizações ou diligências.
Riscos de dados: a LGPD é muito forte e a tendência é que seja muito mais forte com o passar do tempo e com o poder que os dados têm de influenciar decisões. Então, garanta que seus dados estejam sendo usados e manipulados em conformidade com as leis;
Pode parecer muita coisa para olhar. Mas, no fim das contas, empreender envolve muitas responsabilidades e risco. E é exatamente por isso que empreender pode trazer grandes recompensas. Como eu disse anteriormente, a ideia desse artigo não foi te desincentivar de forma alguma, mas te preparar.
Aprender a lidar com este tipo de coisa faz parte do processo, então busque aprender e conhecer muito bem seus inimigos, até mesmo os invisíveis. E assim, você tem tudo para conseguir construir um negócio de SaaS rentável e duradouro.
Normal guria de mercado venderem a ideia de um saas ou micro saas mas os aventureiros que não sabem o que é empreender no modo sistemático da coisa acabam levando paulada no processo que muitos desistem. Parabéns pelo artigo
Thiago, você mandou muito bem nesse artigo! Empreender, especialmente com SaaS, é basicamente assinar um contrato com os riscos. Não tem como escapar deles, é parte do processo. Conhecer esses riscos é essencial para que, pelo menos, estejamos cientes do que pode acontecer e nos preparemos da melhor forma possível. Não dá para evitar todos, mas estar consciente já é meio caminho andado para lidar melhor com as situações quando elas surgirem.